Olho d’agua

Um belo rio, um rio que soube
Ganhar corpo com a travessia
E nunca se fez de riacho.
Seus olhos estão cheios dele.

Um rio que se reconhece,
Sabe que tudo é paisagem
– Tudo é passagem –
E não se importa com a imensidão do fim
Pois já se sabe mar.
Mais importa o caminhar.
Ele é sendo.

Isso explica os seus olhos e os olhos explicam isso.

Canção do Fim

Descansar…
Na escuridão
Fazer o sol do tempo cair
No crepúsculo da solidão
Do beco dessa dor
A aurora do meu coração
Há de reluzir
No emudecer da madrugada
A saudade adormece o teu partir
E o galo alvorece um novo ardor
Hei de despertar do adormecer
Moço e sem ti
Pra quê desviar vento do rosto?
Juntos fomos tanto, não há farsa!
Para quê tocar tolo desgosto?
São nos feito laços, não amarras!
Deixar correr cansa o amor
Vai como pena breve
Eu  toco os vestígios teus em mim
Dançar a perda engana o choro
No coro das lembranças
Canção do fim
____________________________

Luis Kiari / Caio Sóh

Fotografia

Luz, porque te vejo luz
Pelas coisas mais puras, Luz
O andar de tuas ações diz
No querer, de tanto querer, faz
Do meu tempo o teu templo, Luz
Onde habitas e me curas, jaz
Homem cheio de amores vis
Eu me deixo nos teus braços, Luz
E acredito ser bem mais feliz.

Às seis

Quase que eu quis
Que nós se desatassem
Que nós nos descobríssemos
Que então…
Enfim
embora nós agora em dois, nenhum

Sobre o meu destino eu sei?
Sobre o seu e o meu o céu?
Sobretudo o nosso chão!

Será, talvez,
Que ao invés de outrora,
a nossa vez, é a vez da hora?
Amanhã, te encontro no café às seis

Quase que eu quis
Que nós se reatassem
Que nos redescobríssemos
E então…
Enfim
embora nós em um, estou em dois

Sobre o meu destino, o caos!
Sobre o seu e o meu, às seis!
Sobretudo a nossa paz?

Será, que ao invés do agora,
outra hora é nossa vez?
Desfaço as malas amanhã.
Te encontro no café…talvez!
______________________

Luis Kiari, Gabriel Garcia e Dudu Valle

Off line

Às vezes o que me entra pelos sentidos, confunde minhas ideias, não o que sou.
Luzes distorcidas, espelhos narcisistas, cheiros e cheiros.
Não consigo me conectar com a luz, não consigo me banhar no rio, não consigo sentir o cheiro de chão.
É como uma noite mal dormida, quando os sonhos se confundem com a realidade e não se sabe se realmente está acordado ou se dorme.
É como se olhasse o mar e não sentisse sua complexidade, sua profundidade.
É como se olhasse o mar e ficasse vendo as nuvens.