NOSSO CARNAVAL

Nossa festa era tão certa, pés no chão
Nós dois desertos de confetes e solidão
De mudanças, tantas juras
Eu deixei em cada curva desse chão, tanto pranto
De cavar com minhas mãos, cada palmo de amargura
Mas o amor é como um pássaro,
Mais no ar que pé no chão
Se a razão quis rastejar, o amor quis bater asas
Eu não pude dizer não
E caí pra aquela altura, e eu renasci por lá
Pratiei o céu inteiro, fiz da quarta feira cinza
Mais um dia pra dançar
E eu dancei pisando em nuvens, e eu sonhei poder voar
E você no céu de argila, fez meu peito uma avenida
Para o carnaval passar.
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Luis Kairi / Pedro Barnez

Tomé

                         Deus queira
                         Deus queira
Que seja o que Deus quiser

Que seja
Que seja
Que seja o que eu fizer

A palma de luz que me falta
A sombra de luz que me resta
A fé que me arrasta e que me dá

O fecho dos olhos
A fresta
A porta dos fundos
A flecha
O alvo, o reflexo que será

                         Deus queira
                         Deus queira
Que seja o que Deus quiser

Que seja
Que seja
Que seja o que eu fizer

Se a vida é um piscar de momento
A força que afronta o tempo
Que pese, mas leve pra algum lugar

Se o ar que se vê como a pluma
Se as folhas com o vento se aprumam
Na hora do escuro o que é seu será

                         Deus queira
                         Deus queira
Que seja o que Deus quiser

Que seja
Que seja
Que seja o que eu fizer

Se não Tomé somos sãos,
o que é seu será
Se não Tomé somos sãos,
o que é seu será

Se não Tomé somos sãos,
o que é seu será
Se não Tomé somos sãos,
o que é seu será

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Luis Kiari / Gabriel Garcia

A CURA

Olhar, quanto tempo dura?
Dura o tempo de um bater de palmas?
Dura o tempo da curiosidade?
O tempo que julga?
Dura o tempo eterno de nós, dentro do segundo que apura?

Há eternidade em um olhar, e cura!

A curiosidade de se estar atento,
Leva uma curiosa idade para dentro.

O olhar do tempo cuida.
O olhar do tempo cuida.

Não importa de onde partimos,
Se do instinto a razão,
Se da razão ao instinto,
Olhar é como a força do grão
É se deixar na questão, e existimos.

Olhar é a nudeza pura,
É a alma a se testar leve,
É o peito que se abre e cura
É o princípio de se deixar breve
Em um piscar de tempo, que dura.
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Luis Kiari / Mandy Kawa

Ás vezes o amor

Às vezes o amor
É algo que inunda
Afunda olhar
Secar na chuva
É fundo no que possa revelar

Às vezes o amor
É o que flutua
Um leve estar
A carne nua
É deixa pra que possa escapar

Às vezes o amor…
É um tanto de falta
Um eterno momento
É sobra de tempo

Às vezes o amor é…
Cem vezes o amor, só
Às vezes o amor é, só!

Às vezes o amor
É algo que doa
É escolher
É sem escolha
É livre pra que possa aceitar

Às vezes o amor
É pé de calçada
A flor no asfalto
A caminhada
É tempo que se possa realizar

Às vezes o amor…
É um tanto de falta
Um eterno momento
É sobra de tempo

Às vezes o amor é…
Cem vezes o amor, só
Às vezes o amor é, só!

Se é amor, amor
Amor, amor é
E seja o que for
Cem vezes o amor é
Mil vezes o amor, só
Às vezes o amor é, só!

Cem vezes o amor, só
Mil vezes o amor é
Às vezes o amor é…
Às vezes o amor é…
Mil vezes o amor e só!


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Luis Kiari / Matheus Von Kruger / Bruno Kohl

Jacira

Foi no moinho
Que eu fiz cantiga
Vendo Jacira com vaso nas mãos
Vazando sonhos
Colhendo risos
Na rosa-dos-ventos
Fazendo oração

Foi como houvesse
Raiado o dia
Sendo que o sol já rachava o sertão
Nos seus cabelos
Presos com fita
Levava a noite
O tempo e a razão

Já vi de tudo nesse mundo
De Patativa a Lampião
Só nunca vi homem não desejar
Ter de Jacira o seu coração
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Luis Kiari



Colírio

Já não sei andar por mim
Entre um sol e outro sol
Eu busco no espelho
Sempre um farol
Eu deito no divã
Pra saber o que eu já sei
Que sempre há um jeito
Mesmo já na escuridão
De se abrir os olhos
Na garganta do dragão

Há um lugar que eu não encontro em meu país
Que eu não vi

Há um colírio pra quem quer ser feliz
Eu provei e não quis

Não sei dizer de onde vim
Doutrinado eu fui
A dançar uma moda
Que eu não compus
A ser marionete
Uma peça de xadrez
Eu vejo meu desenho
Com rabisco de outras mãos
Meu mapa é a América
No centro do Japão

Há um lugar que eu não encontro em meu país
Que eu não vi

Há um colírio pra quem quer ser feliz
Eu provei e não quis

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Luis Kiari / Alexandre Castilho

Deixa ser

Do que nos vale
Todo amor que há em nós
Se ao final estamos sós?
Se ao final estamos sós…

Que bom seria
Se a gente se encontrasse
E o amor nos apontasse
O que não conseguimos ver
Que nosso amor tão roto
É o amor de poucos
É isso que o torna bom

Deixa ser
Como é
Esse amor
O amor do jeitinho que é
Tem que ser
Tão igual…

É o meu por você!
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Luis Kiari

TEU LUGAR

Escuta, meu amor, presta atenção
Eu juro emprestar todo o meu tempo
A qualquer pensamento que devolva o teu lugar

Escuta, meu amor, me dá tua mão
Quem nasce para o céu,
Jamais pode ficar com os pés no chão

Devolve o que é teu
E volta a teu lugar
És livre para amar
És livre pra sonhar
És linda, és minha vida
E o céu é o teu lugar

Escravo, meu amor, é o coração
Que bate por bater
Sem ter algum amor como razão

Escape do calor dessa prisão
Aonde os soados sonhos
São o que eles são

Devolve o que é teu
E volta a teu lugar
És livre para amar
És livre pra sonhar
És linda, és minha vida
E o céu é o teu lugar
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Luis Kiari