No avesso das mãos

Que tamanho tem essa cidade dentro de mim?
As ruas são tão parecidas
Todas têm o mesmo nome e as mesmas calçadas.
As pontes atravessam minha solidão
E os edifícios, de concreto frio
Desafiam meu tamanho!
A cada esquina um tapete se estende no asfalto
Pra minha angustia desfilar.
São tantos cruzamentos
Que costuram meus sentimentos
Que eles já não sabem que avenida seguir
E não importa qual a decisão
Seguem sempre no sentido contrário das nossas vidas.

Insônia

Dorme um anjo
Enquanto os meus pés
Tropeçam em saudades
E as pernas em busca daquelas suaves
Se perdem ao passo
De não se sentirem.
Dorme um anjo
Enquanto minhas mãos
Sentindo vontade
Da pele a pele, das costas as palmas
Da valsa dos braços, dos laços da blusa
Que abrem, que abusam
A se desatarem.
Dorme um anjo
Enquanto ele dorme
O céu em minha boca, de estrelas carentes
Se enchem, se enchem.
E aqueles desejos, feitos em sussurros
Alongam os minutos
Pros dias nascerem.
Dorme um anjo
Deus sabe a maldade
Que há neste sono
Enquanto ele dorme, se não sabe ele:
Me seca a saliva, me põe em vigília
E na roda viva, de tanto querer-lhe
Meus olhos a ponta
De enlouquecerem

Ao seu passo

Há sonhos que parecem ser eternos
Que não urgem para serem vividos
Ainda que os olhos brilhem
Vislumbrando o dia.
O cheiro do novo refaz graça, quando te vejo
E a raça do meu peito
Se curva as curvas do teu tempo sinuoso.
Não se deixa apenas os olhos sonharem o gosto
Quando se quer e se sabe
Tão pouco
Os lábios nos levarem ao pecado
De não vivermos o que nos cabe.

Por trás do céu

O que há por trás do céu? É um segredo Que todos nós conhecemos, Mas fingimos esconder com as mãos para trás Um brinquedo que é maior que a gente.   O que há por trás do céu? É uma criança Que conta tudo o que pensa E os adultos não alcançam, Porque olham pro chão Enquanto ele olha para cima.   O que há por trás do céu? É uma beleza infinita. É um universo infinito Do finito dele mesmo.   O que há por trás do céu? É um ser tão estrelado de sonhos Que alcança os nossos intimos E ficamos sem saber o que dizer, Pois tudo que queriamos dizer, está dito.   O que há por trás do céu? È uma chuva de sentimentos, Que molha o nosso sertão, Que encharca os nossos sonhos, Que nos põe de pé a nos perceber criança E então, olhando para cima, Com os olhos da alma, Nos encontramos por trás do céu!