Ser-tão, é ser não o que parece ser
mas sim, o que é das aparências!
Furta-cor
Memória
Saudade de um cheiro desconhecido
Do meu futuro passado
Que ficou num lugar
Que eu bem conhecerei
Que volto sempre que pude
Pra lembrar de quando andarei junto
Por agora, voltei a lugar presente
Onde me formará o que sou
A Dama
Se o céu não conseguiu enxergar
Em meus olhos
A lágrima que acabou de nascer
É que talvez
Por várias vezes
Eu fui descuidado com as estrelas
Ou porque, o meu mau tempo
Me roubou a oportunidade de ver o desfile da dama
Que, só pra chamar a atenção
Largou o vestido amarelo e saiu de vermelho
Não quero que essa gota passe em vão
Sem que me faça pensar na solidão
De cada não sendo, que por vezes estamos
Quando não olhamos para dentro do universo e em volta
No meu particular, pensei em você
E queria que aceitasse ser comigo esse momento
Luis Kiari – entrevista
Menino
Lá vem o menino subindo o morro
Com os pés machucados
De não mais brincar
Lá vem o menino
Menino! Menino!
Não brinque com a cuca
Cuca vai pegar
Não brinque com a bola
Com a roda, com a lata
Lá vem uma farda
Melhor nem tentar
E volta pra casa
Um pouco mais cedo
Não fique a toa se quiser voltar
E reza e chora e implora socorro
Pra passar a noite e o sol vê raiar
Tomara menino
Menino tomara
Tomara que a noite
Não vá te buscar
Ê menino
Que homem
Não piche o que prometeu
Ê menino
Que a noite
Não leve o futuro seu
A noite se foi
Com ela, o bento
O João Lazarento, o Chico e o Dé
E o filho mais velho
De dona Francisca
Que mora em cima do bar da Zezé
E foi-se também
O olhar do menino
Perdido entre o céu e o morro vizinho
Quem sabe tentando
Ainda se achar
Em outro lugar, que não seja ali
Aonde a amizade perdure por lá
E não é preciso chorar pra dormir
Lá vai o menino descendo o morro
Pesando na hora de ter que voltar
Com os pés machucados
De tanta saudade
De um lugar que se possa brincar
Ê menino
Que homem
Não piche o que prometeu
Ê menino
Que a noite
Não leve o futuro seu
Sol maior
Eu te quero uma melodia qual for do meu dia
Quem nasce pra ser musa, meu bem
Não perde um pé de tristeza ou de alegria
Se espalha
Ainda que não saiba
Me inspira e reparas
Que os meus dias serão teus
Os meus versos serão teus
E o toque da caneta no papel
Te incluirá na pauta
Serei o réu primário dessa flauta do cupido
Serás esculpida em notas
Não fáceis, mas frouxas
Soltas aos tons das gotas dos segundos
Eu serei teu musico, e tu
O meu mundo de sóis e bemóis, e nós
Sem nenhum acidente
Viveremos numa escala crescente, ascendente
Do grave para o agudo do amor
Não sentiremos mais dor
E não andaremos mais mudos
As flores das desilusões
Que nascem no escuro
Passaram como vagões de trem
Do zero ao cem, do cem ao surdo
Ou como vultos que não se presta atenção
Importará a canção
A melodia passeando em harmonia
Trinta dias, doze meses, cem mil anos
Todas as notas do piano
Que couberem em minhas mãos, serão só tuas
E quando as mãos, que te compõem
Mudarem em rugas
Serás eterna
Infindamente, delas, música