Ao-pé-do-ouvido

Se calo o peito, é pra ouvir
                                       …rebento
Que cada um segundo, o meu ser
                                                 …alarde
E como a espuma de um cão
                                           …raivento
Pre-cindir com o mundo, a minha
                                                 …Vontade
Que querer ser-todo, já revela o
                                                …tempo
Que não me
                   …contenho
 Só pela
             …meta-de

Flor-da-idade

Um floricultor planta as mesmas flores, todos os anos 

E todas tem a mesma cor

Mas ele sabe olhar com os olhos do novo

Para aquelas mesmas flores de sempre

Ele será um eterno apaixonado, por novas-velhas-flores. 

As coisas podem ter o mesmo cheiro de sempre

Mas é novo o entendimento!

Da Porta

Se quando você for
Embora da minha vida
Se quando cê voltar
Eu vou estar lá na porta de saída
Esperando a volta entrar
Toda areia se espalhar
Toda chuva estiar
Toda injúria feita aguar
Todo bolo desandar
Todo peito arrebentar o botão de toda blusa
Toda pele arrepiar
Toda lágrima secar
Todo o coração queimar
Toda escolha se aceitar
Toda tradição quebrar
Todo chão molhar, pra espelhar a minha angústia
Toda história acabar
Toda procissão passar
Toda imprensa divulgar
Todo céu se anuviar
Todo povo se assombrar
E na sua volta, só a porta está ferida
E eu a espiar
De longe avistei
A flor no seu vestido
E marejei
Deitei no chão as julgas
Dos braços de outros quens
Na cama, o nosso altar, imaculei
E se toda jura Jurema
E se toda manha
E se toda cura curar
Essa toda injúria
E se toda injúria curar
Essa toda cura
                       Luis Kiari e Nuria Mallena