Colírio

Já não sei andar por mim
Entre um sol e outro sol
Eu busco no espelho
Sempre um farol
Eu deito no divã
Pra saber o que eu já sei
Que sempre há um jeito
Mesmo já na escuridão
De se abrir os olhos
Na garganta do dragão

Há um lugar que eu não encontro em meu país
Que eu não vi

Há um colírio pra quem quer ser feliz
Eu provei e não quis

Não sei dizer de onde vim
Doutrinado eu fui
A dançar uma moda
Que eu não compus
A ser marionete
Uma peça de xadrez
Eu vejo meu desenho
Com rabisco de outras mãos
Meu mapa é a América
No centro do Japão

Há um lugar que eu não encontro em meu país
Que eu não vi

Há um colírio pra quem quer ser feliz
Eu provei e não quis

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Luis Kiari / Alexandre Castilho

Sempre que eu canto chove

Sempre que eu canto chove
Qual será a relação
Do meu canto com a água
Minha voz na imensidão?

Sempre que meu canto escorre
No quintal turvo a visão
Rio baixo e deságuo,
Choro seco no ser-tão

Chão rachado, rosto inteiro
A repressa, a prisão
Evapora, deixa marcas
Barro o peito em suspensão

É de viver e ser
Um ser intenso
Rio em seu curso busca o mar
Pra ser imenso

Há de chover
Um canto cheio
Para dar corpo e atravessar
Profundo leito

Sempre que eu canto chove
Qual será a relação?
Calo, ouço e me afogo
Gota a gota na canção

Se anoitece no terreiro
Pleno dia escuridão
Céu da boca se anuveia
Me desato grão em grão.

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Luis Kiari / Matheus Von Kruger

Peço

Peço pra você pedir pra mim
Parte do meu peito pra te dar
Planto o meu pranto
Pesa pouco o que sou
Prezo por você
Preso por você
Peço um favor…

Por amor, por Deus
Prenda-se a mim
Tanta coisa pra viver
Pra que então ficar assim?

Eu sem você
Você sem mim

Peço pra você pedir pra mim
Parte do meu peito pra te dar
Planto o meu pranto
Posso até pedir perdão
Pelo seu silêncio
Pelo sim e o não
Peço perdão…

Por amor, por Deus
Prenda-se a mim
Tanta coisa pra viver
Pra que então ficar assim?

Eu sem você
Você em mim

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Luis Kiari / Gabriel Garcia

Deixa ser

Do que nos vale
Todo amor que há em nós
Se ao final estamos sós?
Se ao final estamos sós…

Que bom seria
Se a gente se encontrasse
E o amor nos apontasse
O que não conseguimos ver
Que nosso amor tão roto
É o amor de poucos
É isso que o torna bom

Deixa ser
Como é
Esse amor
O amor do jeitinho que é
Tem que ser
Tão igual…

É o meu por você!
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Luis Kiari

TEU LUGAR

Escuta, meu amor, presta atenção
Eu juro emprestar todo o meu tempo
A qualquer pensamento que devolva o teu lugar

Escuta, meu amor, me dá tua mão
Quem nasce para o céu,
Jamais pode ficar com os pés no chão

Devolve o que é teu
E volta a teu lugar
És livre para amar
És livre pra sonhar
És linda, és minha vida
E o céu é o teu lugar

Escravo, meu amor, é o coração
Que bate por bater
Sem ter algum amor como razão

Escape do calor dessa prisão
Aonde os soados sonhos
São o que eles são

Devolve o que é teu
E volta a teu lugar
És livre para amar
És livre pra sonhar
És linda, és minha vida
E o céu é o teu lugar
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Luis Kiari

A Paixão

De tanto a gente se esbarrar
Vai, vai nascer
Aquilo que dá nós no peito
E é sem querer

De tanto, em tanto desejar
Vai, vai crescer
Vai brotar, sol a sol
E desabrochar flor do prazer

Paixão que de tanto se espicha
Rasteja por toda parede
Paixão que não desbota a tinta
Paixão que não sacia a sede
Que é bicho escamoso, é lixa
Paixão que se larga atiça
Perigo e fogo é a sua rede

Não dá pra se ter um insight
Da onda que a paixão trará
Ás vezes é um disparate
A força que a de liberar
Partindo ao meio razões
Deixando no peito rachões

No dia em que a paixão passar.

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Luis Kiari/ Matheus Von Kruger

Um sopro de fim de tarde

                                                       

                                                          Um

                                            sopro de fim de tarde,

                                        daqueles que dá frio na alma,

                                me trouxe você, e eu fiquei a imaginar.

                          A pipa ainda paira como que boiando ao vento.

                  Só se percebe nela vida, porque tudo nela mexe liberdade.

                          Essa pipa faz parte do exército que vai comigo

                             onde eu for. Sento no palco da minha sina

                                        e ali, do lado esquerdo, acima

                                            da altura dos olhos, ela

                                                        boia e se

                                                           mexe
                                                               .

                                                           .


                                                               .


                                                         .
                     
                                                              .


                                                         .


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                                                          .

Sofia

Chovem gotas de fantasia na terra fértil do pensamento.
A força criadora faz a planta vencer os grãos e apontar o céu, o céu azul profundo, e crescer no sentido, à luz das ideias, onde o tempo não faz a curva, apenas na memória, e o experimentar das coisas nos faz pensar (sentir) vivos. E nos aliviamos: ao menos concluímos; e nos perturbamos: ainda existimos.